julho 23, 2009

INBRAPI/NUMIN e o Desenvolvimento Indígena sob perspectiva de gênero




Eliane Potiguara



Desenvolvi­mento é o que todos e todas queremos. No entanto o modelo de desenvolvimento social contempla muito mais aos homens do que às mulheres na sociedade. Trabalhar com estratégias para formação de gênero é desafiar as relações desiguais entre homens e mulheres. Na questão indígena não é diferente, tanto no campo de ação, na família ou não, como também no campo organizacional e institucional. A formação de gênero é uma das estratégias usadas para promover a justiça de gênero dentro das organizações de desenvolvimento. Tal formação baseia-se na convicção de que intervenções em forma de projetos ou programas de desenvolvimento podem resultar em transformações sociais para povos indígenas. Formação de gênero neste caso pretende atingir justiça de gênero incorporando uma perspectiva de gênero a todos os níveis de análise e planejamento do projeto ou programa de uma organização indígena, por exemplo.

A formação de gênero pode também ser considerada num contexto mais amplo. Nesta perspectiva, a formação de gênero segue uma abordagem holística ou cosmovisionária e está baseada na experiência de mulheres e homens e tem explicitamente como objetivo o fortalecimento do poder das mulheres num sentido mais amplo do que projetos e programas de desenvolvimento atuais. Por essa razão o INBRAPI (Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual) ao longo de nossos quase seis anos de existência, preocupou-se em oferecer essa forma de discussão e organização dentro de nossos programas e objetivos institucionais. E resultou na formação de um núcleo que atenda especificamente às inquietações das mulheres indígenas. Por essa razão no ano de 2008, nasceu o Numin ( Núcleo de Mulheres Indígenas do Inbrapi) e após reuniões e decisões, a cadeira coordenadora ficou sob a minha gestão, devido a um trabalho anterior de quase 30 anos dentro do GRUMIN e que continua até hoje.

À mulher, cabe o papel de transmitir a cultura do dia-a - dia e mais. transmitir o aspecto da ancestralidade que é o diferencial mais importante para uma cultura. E a mulher por ser mais visionária que os homens e ter negado alguns vícios do colonizador e neo-colonizador, guarda a sete chaves, muitos aspectos culturais e cósmicos de seus avós, bisavós e tataravôs. No passado, a mulher possuía ainda o poder da determinação política, a palavra final nas Assembléias. Com a presença dos estrangeiros os homens colocaram suas mulheres na retaguarda ético-cultural, para defendê-las. Há casos, no século XVI, onde homens levavam toda a sua família ao suicídio coletivo, onde todos pulavam do alto de rochas, para não serem submetidos à escravidão. Dessa retaguarda muita mulheres indígenas não saíram.

A Educação formal indígena cumpre o papel da transmissão da cultura, por isso se lutou muito para o estabelecimento de uma educação verdadeiramente indígena e voltada para a realidade, uma educação diferenciada. Antes a educação formal passava pelos moldes da sociedade não indígena. Hoje existe um avanço e políticas públicas para isso. A maioria dos professores é indígena e sensibilizada dentro de sua cultura. Esse aspecto está mais avançado do que uma política pública para saúde e direitos reprodutivos. Urge que os congressos, conferências, seminários indígenas introduzam esse tema efetivamente nas pautas de discussão, mas não vemos isso, parece que não é relevante. Venho observando várias pautas e o tema mais geral é sobre direito à terra, desenvolvimento, propriedade intelectual, o que é corretíssimo, mas especificamente, não vejo essa discussão tão fortalecida e o INBRAPI a partir de agora aceita esse desafio. O desafio é discutir milhares de temas, mas incluindo a transversalidade de gênero.

O I Censo Escolar Indígena de 2001 mostrou que há mais professores do que professoras, eles representam 65% do total. O que isso indica? Indica que a participação das mulheres indígenas ainda está aquém. Percebi isso há 20 anos, quando conversava com líderes indígenas e professores. É preciso resgatar a originalidade inicial da mulher indígena antes do processo colonial. Ela tinha a decisão sobre problemas políticos, tinha a última palavra. Sabemos que a solidão das mulheres indígenas começou com a migração por ação violenta aos seus povos. O número de meninos nas escolas também é maior. Existe resistência à educação formal das meninas? Sim, as mulheres foram alvo de perseguição masculina desde o processo de colonização. Eram arrancadas do seu povo para servirem de concubinas e escravas aos estrangeiros. Essa responsabilidade é da política integracionista que paternaliza os povos indígenas até hoje. Mas quando nosso movimento pela conscientização da mulher indígena começou a causar polêmicas, a partir de 1979, o processo foi questionado. As meninas indígenas entram para a escola mais tarde do que os meninos. Precisamos mudar isso.

Só com capacitação, seminários, grupos de estudos, organização de oficinas teóricas e práticas entre jovens e líderes masculinos e femininos poderemos implementar uma ação coletiva que caminhe para a igualdade de gênero entre povos indígenas. O NUMIN inicia esse processo, já junto à Comissão Executiva formada em 5 de agosto de 2008 rumo ao Fórum Nacional da Mulher Indígena 2010.

*Eliane Potiguara é professora, escritora, articuladora indígena, 58 anos, autora do livro “METADE CARA, METADE MÁSCARA”, editado por Daniel Munduruku (www.elianepotiguara.org.br)

Veja também www.grumin.org.br ( site institucional )

veja também o blog do FÓRUM NACIONAL DA MULHER INDÍGENA: http://mulheresforteseunidas.blogspot.com/ (mulheres fortes e unidas!)

julho 17, 2009

Favelativa e Serra FM Lança Radio Comunitária no JD Vitória






Operando em 95.1, a Associação Rádio Comunitária VITORIA FM, esta a três mezes no ar com uma cobertor local a radio comunitária suje com o objetivo de
Prestar serviços de Radiodifusão Comunitária operando em FM (Freqüência
Modulada) na sintonia de 95,1 Mhz, baixa potência, dando ampla divulgação aos serviços prestados para a comunidades, agindo como instrumento de fomento da cultura local.

Fortalecendo a preservação e divulgação da cultura popular e do meio ambiente, conscientizando a comunidade em geral para exercer sua cidadania, garantir a livre expressão e informação popular, alem de contribuir com a luta pela democratização dos meios de comunicação na sociedade pela democratização da informação e pela instituição do Direito de Comunicar.

Juntos com outras instituições promover atividades educacionais, de formação e integração da comunidade, estimulando o lazer, a cultura e o convívio social.
Esta e Associação de Radio Comunitária Vitória FM a serviço da comunidade..Favelativa e Serra FM incentiva e investi na Associação Rádio Comunitária VITORIA FM por acreditar no trabalho comunitário e nas novas lideranças que estão a frente da radio. Queremos que a radio atue como parceiros e não como nossa propriedade só estaremos dando o suporte necessário para que logo poção seguir sua própria caminhada fortalecendo as rede de movimento sociais nas favelas. [Para isto foi fundamental a colaboração da Serra FM através do seu diretor Moizes Franz que esteve presente em todas as etapas e acreditou no Vitória FM].

Se estivar passando pela região sintonize 95.1 Vitória FM.

Diretoria da radio:
PEDRO DA SILVA OLIVEIRA– CARLINHO RODRIGUES -MARLENE RODRIGUES DA SILVA – JEVERSON NEVES DA CRUZ – ALDECIR ALVES COELHO.

Contatos: (65) 3641-3504/ 9602-1517
E-mail: vitoriafm.cba@gmail.com

julho 16, 2009

Morador do Jardim Vitória e coordenador do Favelativa reclama de transtornos nas obras do PAC.



Fonte: Secom CâmaraCbá

Convidado pelo vereador Lúdio Cabral (PT), o representando do Movimento Favela Ativa, Adnilson da Silva Lara (DJ TABA), fez uso da tribuna livre na sessão desta quinta (16) com o objetivo de chamar atenção dos parlamentares para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no bairro Jardim Vitória e região. Ele afirma que as obras estão causando transtorno aos moradores e pede que os vereadores ajam no sentido de serem concretizadas o mais breve possível.

Um dos problemas citados pelo morador é quanto o acesso ao bairro, como os trabalhos são de saneamento integrado e urbanização, ele afirma que as obras não estão sendo finalizadas da forma correta. “Eles abrem os buracos pra colocar as manilhas e na hora de fechar não fazem o trabalho direito, o que faz com que os buracos ao invés de fechados aumentem dificultando assim o acesso ao bairro”, disse. Devido à dificuldade de acesso os as viaturas e caminhões de lixo não entram mais no bairro, o que gera problemas relacionados a segurança e saúde pública.

Segundo Adnilson o transtorno é conseqüência da falta de planejamento. “Se tivessem planejado da forma correta antes de iniciarem as obras, os moradores não teriam tantos problemas”. As obras do PAC na região do Jardim Vitória iniciaram em julho de 2008 e os trabalhos ainda não foram finalizados.

O favelativa esta e é a comunidade não podemos fechar os olhos para as dificuldades que estamos passando, por isto sempre utilizaremos destes espaços para reivindicar aquilo que nos e de direito fala o morador.

Deputado estadual Alexandre César destina emenda para reforma do Centro Cultural e Profissionalizante JD Vitória.



Em reuniam com o deputado coordenadores do Favelativa apresentaram o projeto que prevê diversos cursos de formação cultural e profissional alem da implantação de uma radio comunitária no local a Vitória FM,também será implantado o banco do povo que possibilitara a circulação de uma moeda solidária projeto este que já conta com a parceira da UFMT e coletivo Espaço Cubo.O local também prevê semanalmente a Feira da Troca onde pessoas poderão trocar seus produtos de valores diversos estimulando o escambo e com isto aumentando sua renda familiar.


O Procurador do Estado e deputado Alexandre Cesar garantiu um emenda parlamentar que possibilitara e reforma do local que fica na avenida B, em frente ao Centro Comunitário do Jardim Vitória.
O lugar estava a oito mezes servindo de ponto de consumo de droga e prostituição prejudicando assim todos os moderadores da comunidade. A ocupação esta sendo feita em acordos com antigos proprietários que sem condição de continuar os trabalhos com a creche filantrópica se virão abrigados a flechar as portas, sendo assim ela mesma a comunidade através do movimento Favelativa e associação de moradores assumirão o local.


Trabalhos como estes e fundamental que o poder público tem sensibilidade de incentivar e potencializar, pois não e imposto e a comunidade para a comunidade diz o deputado.
Ligia Viana da coordenadenação Favelativa agradecer o parlamentar que acredita no nosso trabalho, estamos apenas começando e temos muinto a fazer e para isto contamos com a parceria de todos.

FAVELATIVA – criado em 2008, com objetivo de promover o desenvolvimento humano nas comunidades da região do bairro jd. Vitória. Promovendo ações e atividades voltada para a educação cultural politização e a valorização do ser humano dando-lhes oportunidade de construírem nova caminhada.

NUCLEU DE PESQUISAS TEATRAIS

CLIK NO PANFLETO:

A Cia. Pessoal de Teatro, antigo grupo teatral As Bacantes, nasceu em 2001, em Ouro Preto, com o espetáculo Primeira Pele. A Companhia se mantém em constante aprendizado baseando-se na pesquisa do olhar único de cada espectador. As teorias da cena contemporânea do teatro e experiências antropológicas dentro de diferentes estéticas, buscando fundir várias correntes e segmentos artísticos, formam a mistura criativa da Pessoal.

Oficina de Gestão e Documentação de Acervos Museologicos

clik no panfleto:

julho 10, 2009

Jovens de Periferia Buscam Parceiros Para Reforma e Estruturação de Prédio Abandonado.


Por:Por: Keka Werneck (9922-9445)
Jovens moradores do bairro Jd Victoria periferia de Cuiabá saem busca de parceiros para reforma e estruturação de prédio abandonado, para transformá-lo em centro cultural e profissionalizante.

O prédio abandonado, que fica na avenida B, em frente ao Centro Comunitário do Jardim Vitória. Esta a oito mezes servindo de ponto de consumo de droga e prostituição prejudicando assim todos os moderadores da comunidade, sendo assim ela mesma a comunidade através do movimento Favelativa decidem ocupara e tomar para si o que e
dela mesma já que se trata de um prédio publico abandonado pela antiga administração que tocava uma creche para atender crianças da comunidade.

“Queremos que um prédio abandonado seja utilizado como centro profissionalizante e centro multicultural no bairro Jardim Vitória, periferia de Cuiabá”, explica Adnilsom da Silva (DJ Taba), um dos coordenadores do Movimento.

Favelativa é um coletivo de crianças, adolescentes e jovens de periferia, que se unem para construir e reconstruir a vida, refletindo sobre as dificuldades atuais e buscando saídas juntos. O Movimento também forma para a cidadania e politização de seus integrantes.

O prédio em questão é da Igreja Presbiteriana que já concordou em cedê-lo à Associação de Moradores e Favelativa, mas, como estava abandonado, precisa de infra estrutura e reforma.
foto do espaço cultural.


“O que queremos chamar, por meio da imprensa, é justamente a atenção de possíveis parceiros”, explica Ligia Viana da coordenação Favelativa "Estamos em busca de quem acredita, assim como nós, no poder da construção de uma vida melhor para aqueles que estão à margem da sociedade. Estavam porque não estamos mais, estamos mudando isto com iniciativas como esta. Queremos fazer deste lugar um lugar de esperança e de conquista de dias melhores para novas gerações, com cultura, lazer, economia solidária e cidadania, qualificação profissional dando sustentabilidade à nossa comunidade, agregando cooperativismos e fomentado emprego e renda para todos".

O prédio contempla a comunidade e região, que tem cerca de 15 mil habitantes, conforme o Censo 2005 (IBGE).

DJ Taba acredita que essa experiência de ajuda pode transformar a vida de profissionais, que esperam justamente o sinal de que é a hora de colaborar. Muitos deles, inclusive, se formaram em universidades públicas e assumiram assim uma responsabilidade de transformação com a sociedade brasileira.
foto da rua 06 do bairro jd Vitoria.



Além da pintura, o prédio precisa também de concerto elétrico, decoração e tudo mais que pode fazer do lugar um espaço cidadão, bem lindo, no nível que essa juventude merece para dar uma resposta positiva a si mesma e ao país.

Tem muita coisa que pode ser feita no prédio, mas quem vai saber o melhor a doar são os que atuam na área da construção civil, da arquitetura, da decoração. “Precisamos também de computadores”, diz Taba.
Assista o vídeo.


Contatos:
(65)3641-3504/9602-1517 Dj Taba
(65)3023-1311/92185870 Ligia Viana
Email: favelativa.org@gmail.com / ligiafavelativa@gmail.com / djtabafavelativa@gmail.com

julho 06, 2009

PROJETO INVAÇÃO HIP HOP NO JD VITORIA


O projeto invasão HIP HOP apoiado pela Lei de Incentivo à Cultura de Cuiabá sobre a coordenação do produtor cultural Mano César, realizou neste ultimo domingo a quarta edição de 2009 no bairro Jd Vitória em pareceria com o Movimento Favelativa. O evento depois de passar por outros bairros da capital levando dança de rua, oficinas e shows, bairros estes como Coxipó, Pedra 90, Tijucal e Pedregal. No Jd Vitória o diferencial foi o Festival de Pipa e um campeonato de futebol de rua que contou com a participação da radio comunitária Vitória FM que divulgou todo o evento e transmitiu vivo pelas onda do radio em 95.1.


Passarão pelo palco do invasão grupos de musicas gospel, lambadão, samba e rap alem de Djs de estilos variados.
A procima edição será no bairro Dão Aquino.

Biblioteca Itinerante Carrinho do Saber Recebe Doações de Livros.


por:favelativa comunicação
,
Como integrante do Mapa de Ações do PNLL (plano nacional de leitura e literatura), o projeto carrinho do saber realizado pelo Favelativa acaba de ser contemplado com uma doação de livros que foram utilizados pelo PNLL em ações específicas no ano de 2008 e que, agora estão sendo, disponibilizamos para doações, para projetos de incentivo a leituras por todo o pais. São títulos variados, de gêneros diversos, tanto para crianças, como para jovens e adultos. Com isto o projeto carrinho do saber amplia o teu menu literário para seus participante.
O carrinho do saber junto com a editora tanta tinta planeja uma nova ação,o lançamento de mais um livro desta vês na escola Fundação Bradesco localizada no Jd. Vitória com alunos do quinto ano,logo mais informe sobre a ação.

A favela não para e a comunidade agradeci obrigado...

julho 03, 2009

espetáculo ENTRADA FRANCA



espetáculo CORAÇÃO DE MARIA
AUTO DE NOSSA SENHORA

Nesta terça e quarta DIAS 23 E 24
as 19h no Cine Teatro Cuiabá



A FAVELA AGRADECI..

julho 02, 2009

Jornalista igual cozinheiro



por: Ahmad Jarrah

No último dia 24 de última hora, resolvemos ir a um seminário sobre Jornalismo Literário, com a presença dos jornalistas Matinas Suzuki, que foi editor-executivo da Folha de S.Paulo, diretor do grupo Abril e fundador e presidente do Portal iG, e Daniel Piza, colunista do Caderno 2 e diretor de O Estado de S. Paulo.


Tá certo, estavam lá os “caras da grande mídia”, pensei no que iria ser dito frente a toda discussão que vem acontecendo em torno das mídias pelo país. Além do mais o Sindjor resolveu fazer uma manifestação de repúdio à queda do diploma. Sonhei com um enfrentamento, mas não rolou. Meio tímidos, entraram na sala pouco a pouco, carregando cartazes com as fotos dos ministros do STF que defenderam a extinção da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, que fique claro.


Sim, eu sou a favor da queda do diploma, e iria entender completamente isso naquela noite. Keka Werneck, presidente do Sindjor leu a carta de repudio que votaram em assembléia e foram embora num clima de velório. Fiquei refletindo sobre, mas não ia lançar nenhum debate naquele momento porque a palestra já estava atrasada e Lorenzo pronto pra mediá-la.


Suzuki e Piza apresentam o jornalismo literário. Vou aqui me deter apenas às interpretações que fiz de tudo. Eles começaram mostrando a diferença com o jornalismo factual, tão massivamente produzido na imprensa atual, com pouca preocupação com o texto, apenas lead, o que, como, onde e quando. O jornalismo factual acabou por tirar a sensibilidade do público frente aos fatos, números se tornam abstratos e o conteúdo parece os mesmos em qualquer jornal, abordados quase sempre sob a mesma perspectiva relatorial.


Já o jornalismo literário, que não é jornalismo cultural nem sobre literatura, mas uma alternativa ao conteúdo, preocupado com o texto, trazendo uma lente microscópica em cima dos fatos, humanizando o discurso, delineando personagens e perfis reais, se coloca quase como um documentário. Deram como exemplo vários escritores como Truman Capote, Gay Talese, Norman Mailer entre tantos outros nomes premiados pelas melhores reportagens da imprensa mundial.


O jornalismo literário é uma vertente que preza pela escrita, pelo texto, pelo conteúdo, é como disse Suzuki uma “narrativa não-ficcional”, que utiliza dos recursos da literatura para produção de grandes textos. Demanda normalmente um tempo maior para a pesquisa, e um mergulho do escritor na sua pauta. Além disso, sua crítica apurada não permite a fácil aceitação das coisas que são ditas em entrevistas como verdades, por exemplo, mas sim com a pesquisa encontram as brechas da contradição que lhes fornecem uma perspectiva não convencional sobre o assunto. Atualmente, frente a pouca produção de grandes obras literárias ficcionais, crescem nas livrarias a procura por textos narrando a realidade de forma literária.


Claro que há um certo olhar blasé no jornalismo literário, mas não é a isso que eu gostaria de me ater. Fiz apenas uma introdução para contextualizar.




Refletindo sobre jornalismo literário, vi como o rap poderia ser considerado como tal. Tá certo que não possui a literatura das grandes obras em suas letras, mas retrata fielmente o cotidiano e a realidade de pessoas e comunidades. Uma letra de rap pode me dizer muito mais sobre o crime do que qualquer caderno policial, e o melhor, tenho o conteúdo diretamente da fonte, sendo um letrado ou mesmo alguém que não chegou à quarta série. Não tenho dados, e acho que nem preciso deles pra dizer que a maioria das pessoas que fazem e cantam rap nas periferias do país não possuem diploma em curso algum. Aqueles grandes nomes que foram citados na palestra não possuíam diploma de jornalismo, o que me gerou uma certa inquietação, motivo inclusive deste texto.


Depois que vi a frase “jornalista igual cozinheiro” dita pelo Ministro do STF Gilmar Mendes durante a votação, me veio uma lembrança de algo bastante familiar e não pude deixar de fazer algumas comparações.


A questão era: os jornalistas da mídia impressa se acomodaram com a produção de um conteúdo factual, estéril, abstrato, que não me diz nada, não me fornece perspectivas diferenciadas, é a mesma abordagem em todos os veículos. Pouca pesquisa, pouca atualização, muitos cadernos sobrevivendo de releases e atuando como agendas ou reprodução de assessorias.


Enquanto isso a internet me oferece muito mais perspectivas sobre os fatos, conteúdos mais interessantes, escritos sem se ater a regras, com a liberdade subsidiando a criatividade. Blogs, twitter, youtube, streamings, muitas vezes me dão as fontes diretas, e nesses casos nem preciso do jornalista como mediador da informação.


Esse acomodamento reflete inclusive dentro das faculdades de jornalismo, onde temos uma grade curricular totalmente desatualizada e a margem dos largos passos dados pela comunicação na última década.


Aí fazendo uma comparação, por exemplo, com a evolução tecnológica percebemos os upgrades dados na produção de softwares, iniciativas inovadoras e revolucionárias surgindo muitas vezes das mãos de pessoas com 10, 12, 15 anos de idade, que nem sequer saíram do colégio. O que seria da tecnologia e da internet sem essa gurizada? Eis que surge o pesadelo dos jornais impressos, mas não como plataforma e sim conteúdo.


Letras, códigos, cifras, é tudo linguagem, é tudo escrita nos seus diferentes suportes. Um jornalista que defende o diploma não pode ser contra a Lei Azeredo, mesmo que o diga que sim, seria uma incoerência muito grande, pois é tudo o mesmo DNA. Não podemos brecar o talento de um garoto de 15 anos que toca bem uma guitarra porque ele não tem um diploma, não podemos impedir que ele suba num palco pra se apresentar porque não tem carteira da OMB.


Lembro agora dum tweet que li, acho que da @kakah que dizia “Se é pro diploma proteger a incompetência, é melhor que a queda dele legitime o talento”. E é isso mesmo que penso. O máximo que pode acontecer são os jornalistas correrem pra se atualizar, melhorarem seus conteúdos, oferecerem o diferencial da pesquisa, e as faculdades atualizarem suas grades curriculares, os professores se preocuparem mais com o ensino contextualizado com o nosso tempo. Não peço grandes banquetes, somente uma boa comida feita na hora.


Nesse sentido, pra mim fica claro que não existem “velhas mídias” e “novas mídia”, mas sim a mídia que hoje tem a tecnologia a seu favor de forma mais livre, onde podemos ser nossos próprios meios pulverizando a informação. E pra mim a diferença não se dá somente no suporte tecnológico, mas também e não menos importante no conceito.


Não é simplesmente um jornal criar um twitter e postar o mesmo conteúdo que está no impresso que ele se tornaria uma “nova mídia”. Estamos falando de conteúdo, e é aí que entra a diferença do que é produzido na internet, pelos blogs e afins, muitas pessoas, muitos pontos de vista, informação colaborativa, textos, fotos, vídeos, áudio, frente ao jornalista que está na redação fechando hj a noite a edição de amanhã. Por que eu leria hoje uma notícia de ontem, se a internet me dá tudo agora? O que os jornais têm pra me oferecer agora? O mesmo arroz com feijão frio de ontem e olhe lá quando tem feijão.


Lendo o epitáfio do Diogo Mainardi no seu podcast tive a prova cabal disso. Pra mim soou como “vou voltar pra minha redação que é onde sou eu quem mando”, não posso com a liberdade de expressão e com tantas pessoas aqui, com tantas opiniões e debates. Pra mim traduz literalmente o que chamam “novas mídias” como conceito e não somente como suporte. Eu sou emissor e eles receptores.


Argumento extremamente frágil aquele que diz que a queda do diploma afronta a liberdade de expressão, acredito no contrário, ela evidencia ainda mais. E a liberdade para conteúdos e leitores de todos os tipos, sem distinções, dos mais comuns aos mais complexos.


Agora aprofundando o olhar ainda mais para Mato Grosso, percebemos que enquanto os jornais pelo país não se resumem a simplesmente postar o conteúdo impresso nas suas páginas, mas sim produzirem também novos conteúdos atualizados, por aqui ainda encontramos o fenômeno da “velha mídia digital”.


O Diário de Cuiabá, com a mesma interface desde que conheço, em 2003 quando o Seven apresentou o TCC com o tema Refotografando Chau e colocou um banner do projeto no site, que inclusive está lá até hoje, no mesmo lugar.


A versão online da Folha do Estado conseguiu mudar de ruim pra pior. Primeiro enquanto todos disponibilizam seus conteúdos gratuitamente na net, a Folha chegou a divulgar que o acesso gratuito ao site se encerraria e somente assinantes poderiam ler o conteúdo. Mas se eu sou assinante do jornal impresso, pra que é que eu preciso acessar a versão online pra encontrar as mesmas notícias? Agora, apesar da propaganda dizer que é o “novo” vejo somente uma edição impressa um pouco mais bonita com o mesmo conteúdo de sempre, e um site constantemente desatualizado. Nem o conteúdo do impresso a Folha está conseguindo atualizar direito no site. Já a Gazeta se destaca um pouco mais na internet, mas mesmo assim muito aquém de ser bom.


Portanto, penso que antes de mobilizar para fazer manifestação contra a queda do diploma, é muito mais urgente e importante mobilizar para mudar a cara do jornalismo mato-grossense. Deixar de produzir a velha comida fria e passarem a ser ótimos cozinheiros, sabendo usar ingredientes e temperos para oferecerem em seu cardápio deliciosos pratos quentes para todos os paladares famintos de informação.


Quanto aos blogs, estão aumentando no estado… mas isso é assunto para um próximo post.


Deixo com vocês o epitáfio do Mainardi.


“Adeus, pessoas estranhas
Este é meu último podcast. O primeiro foi em setembro de 2006. Durou tudo isso: dois anos e dez meses. Era para ter durado apenas dez semanas. Algumas pessoas, estranhamente, se dispuseram a ouvi-lo. Eu sou grato a essas estranhas pessoas. A internet matou a imprensa. E eu, estupidamente, escolhi renunciar à internet, permanecendo no corpo carcomido da imprensa. Como um verme.”