julho 05, 2012

O lugar da mulher na política eleitoral


Por Keka Werneck

A política eleitoral é feita de discursos. Agora é o caçador de marajás! Agora é novo para mudar! Agora é o ficha limpa para moralizar! Agora é o operário que emerge do povo!

Os discursos não necessariamente se aplicam na prática.

Um dos discursos dos quais a política eleitoral se apropria, atualmente, é: agora é a vez mulher!

Não que isso não faça nenhum sentido. Faz! As reivindicações de gênero estão, de fato, a cada dia mais visíveis e a Lei Maria da Penha é um bom exemplo de conquista real.

Até mesmo os homens, que ainda dominam o mundo (o mundo ainda é dos machos, vamos combinar!), repetem muito isso - que é a vez da mulher! - mas continuam as mantendo em um lugar subalterno na disputa. Por exemplo, é comum o político usar o nome da esposa, quando o dele próprio já está desgastado ou até vetado pelo tribunais, sabe Deus por quais crimes.

Sendo assim, boa parte das mulheres entra na corrida eleitoral pela porta dos fundos, lançadas por maridos, que, depois do pleito, usufruem do poder daqueles cargos eletivos, como se fossem donos deles e são.

Isso não é conquistar espaço eleitoral, isso é mais uma forma de uso da figura feminina. Novidade? Não. A mídia faz isso o tempo todo, está naturalizado, é permtido.

Não precisamos de um segundo escalão na política ou de um esquadrão de segunda linha formado por candidatas biônicas. Precisamos sim de mulheres autônomas, preparadas para tal, conscientes das lutas que devem travar, postadas ideologicamente.

Da mesma forma também precisamos de homens assim.

Há cotas para incentivar a presença da mulher na política. Que geralmente não são preenchidas! Mas por quê?

Um motivo razoável a se levar em consideração é a falta de tempo. Boa parte das mulheres ainda é dona de casa. Outra parte trabalha em casa e na rua. Muitas têm dois empregos. Quase todas criam filhos. Boa parte cria, inclusive, sozinha, sem pai.

Além da questão tempo, a sociedade ainda entende que o melhor ambiente para a mulher é o doméstico. Ninguém sabe ser dona de casa como uma mulher! Ninguém cria filhos como elas! Ninguém lava uma roupa como uma mulher! Já o espaço público é próprio para o homem, conforme o senso comum. Na política quem tem know how é o homem! Isso é ainda o que predomina no imaginário da sociedade e portando nas eleições.

É urgente que isso mude mas não adianta apostar no jeito feminino de governar. Governam melhor os que são justos ou justas, honestas ou honestos, arrojados ou arrojadas, determinadas ou determinados a mexer em certos vespeiros, entre outros fatores.

Entre Lula e Dilma, tem diferença no jeito de governar devido à questão gênero?.

A mulher deve estar no poder, ser incentivada para tal, ter o direito de estar, o direito real – porque fazendo tripla jornada fica meio difícil. Mas isso não quer dizer que uma mulher vá governar melhor que um homem. Nem melhor, nem pior.

O lugar da mulher na política, por fim, deve ser conquistado por ela, como um direito universal.

A mulher no poder não deve reproduzir os erros que o mundo masculino perpetuou, embora ela esteja fazendo isso.

Talvez esses erros na gestão pública sejam próprios do humano...

Talvez governar bem não seja uma questão de gênero, mas sim de caráter, de coragem e de consciência do papel político.

Melhor não votar em homem só por ser homem, não votar em mulher só por ser mulher, nem ficar preso a discursos de momento.