agosto 25, 2010

Anita Prestes vem a MT e diz que MST é maior movimento organizado de trabalhadores do mundo




Por Keka Werneck, da Assessoria de Imprensa do Centro Burnier

“O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) é a maior organização popular do Brasil, da América Latina e do mundo”, afirmou Anita Prestes, filha da revolucionária Olga Benário e de Luiz Carlos Prestes, em palestra que marcou os 15 anos do MST em Mato Grosso, dia 14 de agosto, último sábado.

No dia 14 de agosto de 1995, o MST fazia a primeira ocupação em Mato Grosso, na fazenda Aliança, município de Pedra Preta, Sul do Estado, coração do agronegócio à época. Na madrugada, entraram na área improdutiva 1.100 famílias, entre homens, mulheres e crianças. Em 1996, saíram os primeiros dez assentamentos, entre eles o Antônio Conselheiro, Ernesto Che Guevara e Chico Mendes.

O MST dá nome de gente de luta à assentamentos e outros espaços, como o Centro de Formação Política e Pesquisa Olga Benário onde foi realizada uma bela programação de dois dias.

“Sinto-me honrada por este convite de vir até aqui. E digo que estou sempre ao lado daqueles que, como o MST, lutam por uma outra sociedade”, disse Anita, que, após ministrar a palestra sobre “A Formação de Quadros para a atual Conjuntura”, descerrou a placa fundadora do Centro Olga Benário. “Essa escola revela que o MST está tendo a preocupação de preservar e dar continuidade à luta dos revolucionários que, como minha mãe, tombaram pela causa. Não é possível construir o futuro, sem levar em conta todas as lutas do passado”.

Anita Prestes, que é professora aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e que também leciona na Escola Florestan Fernandes (do MST), em São Paulo, reforçou que o caminho desta luta é, de fato, rumo ao socialismo e desejou ao Movimento “sucesso”.

João Paulo, da coordenação nacional do MST, se dirigiu à Anita, afirmando que esse Centro é espaço para a propagação da agroecologia, das boas músicas e da cultura popular, das reflexões sobre as práticas políticas e o legado de revolucionários, como Olga Benário e Luiz Carlos Prestes.

Deixou saudades a programação dos 15 anos do MST em MT, que começou no dia 13, pela manhã, com um ato político. Lideranças sindicais e de movimentos sociais, além de parlamentares e secretários de Estado, estiveram presentes, para apoiar o Movimento.

O governador Silvar Barbosa (PMDB) também esteve presente. “Reconheço a necessidade de elaborarmos programas específicos para atender os assentados, voltados para a agroindústria, identificação de vocação para a produção regional e assistência técnica. Me comprometo a reestruturar a Empaer em MT, porque não adianta nada falarmos em estrada, energia e habitação, se não falarmos em assistência técnica”. A fala do governador foi gravada.

Dando continuidade ao ato, Solange Serafim, da coordenação estadual do Movimento, lembrou que “o MST de MT é um grupo de homens e mulheres, que ousam enfrentar a força do latifúndio”.

Muitos dos presentes se emocionaram com as místicas e as memórias que foram trazidas a todo momento.

Em nome dos camaradas que morreram na luta pela terra e das 4.272 famílias do MST assentadas em Mato Grosso, além das 2.500 que ainda estão acampadas, Antônio Carneiro, da coordenação estadual do Movimento, reconheceu o espírito de luta de todos os presentes e destacou que a batalha aqui é ferrenha. “Estamos no segundo estado em concentração terras, segundo em trabalho escravo, campeão em uso de venenos agrícolas e onde vivem 100 mil famílias sem-terra, conforme dados do IBGE-2006. Diante disso, o MST é apenas uma pequenina parte desta grande luta e vamos precisar de aliados, do campo e da cidade, se quisermos conquistar uma sociedade mais justa, contra o capital e contra este Estado, que só defende os interesses do poder que já está aí”.

Carneiro se dirigiu ao governador dizendo que, em 15 anos, o MST já tem acúmulo de conquistas: terra, trabalho, comida, escola e tantos outros valores necessários à digna vida humana. “Governador, nossa relação tem sido franca e o senhor tem demonstrado abertura para o diálogo. Mas a maioria dos nossos problemas não se resolve só com diálogo. Precisamos de ações práticas, decisão política”.

Carneiro disse ainda que o MST vai continuar lutando contra “os parasitas do agronegócio, nem que isso ainda custe muito sacrifício”.

Antônio Marangon, representando o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, desejou ao Movimento “ânimo, força, fé e coragem”.

Itelvina Masioli, das relações institucionais do MST, perguntou o porquê deste Movimento incomodar tanto à elite deste país? “É porque o MST traz novo modelo de sociedade justa e fraterna, quer mais educação, casa para morar, outro jeito de viver”.

Inácio Werner, do Centro Burnier Fé e Justiça, lembrou o plebiscito popular, que será realizado de 1 a 7 de setembro, quando os brasileiros e brasileiras vão dizer se querem ou não estabelecer um limite para o tamanho das propriedades rurais no Brasil. Inácio afirmou que os detentores da terra não estão cumprindo a função social dela, nem em MT e nem no resto do país. Estimou ainda que a luta por reforma agrária ainda levará muito tempo, mas, “independente desse tempo, acreditamos sim que é possível mudar a sociedade”.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Estado de Mato Grosso (Sintep-MT), Gilmar Soares, advertiu que “não podemos deixar de apoiar o MST em momento algum, para continuarmos dando condições à luta pela terra e pela educação do povo, uma educação socialmente referenciada”. Soares parabenizou o Movimento. “Só celebra a vitória quem faz a luta”.

Gilberto Vieira dos Santos, do Conselho Indigenista Missionário em Mato Grosso (Cimi-MT), lembrou que a luta dos sem-terra, dos quilombolas e dos indígenas é a mesma. E, portanto, devem se unir.

O presidente do Sindicato dos Bancários de Mato Grosso, Arilson da Silva, disse que tem origem camponesa e convidou o MST a ajudar sua categoria a fazer pressão e o debate contra o sistema financeiro, que só protege o capital.

Camaradas que tombaram

Em 15 anos de MST em MT sete pessoas morreram na luta pela terra. Entre elas, Cássio Ramos, de apenas 8 anos, atropelado um dia após um despejo. As famílias foram jogadas em frente à Igreja Cristo Trabalhador, no centro de Cáceres (a 210 quilômetros de Cuiabá). Uma van investiu contra o acampamento e matou o menino.

Lideranças do MST sofreram ainda várias tentativas de homicídio, duas delas claramente identificadas. E ainda convivem com telefones grampeados, investigações da Política Federal e do Sistema Brasileiro de Inteligência (Abin), além de pessoas infiltradas em assentamentos para repassar informações.

A Conjuntura Política e a Formação de Quadros

Na mesa do sábado de manhã, “A Conjuntura Política e a Formação de Quadros”, além de Anita Prestes, também fizeram palestras Itelvina Msioli, da Via Campesina. Ela falou sobre “Conjuntura Política Nacional”. Vanderly Scarabeli fez o “Balanço Crítico do MST-MT e seus Desafios”. E João Pizetta, um dos principais nomes do setor de formação política do Movimento, também falou sobre a formação de quadros, assim como Anita.

Itelvina garantiu que a recente e forte crise do capital só atingiu de fato os pobres. “A classe dominante segue acumulando”, afirmou. Ela lembrou que a luta pela reforma agrária vai contra inimigos fortes, que têm a mídia como um partido de defesa do capital.

Então, como fazer esse enfrentamento? Ela indicou seis passos.

1) Massificação do movimento.

2) Fortalecimento dos assentamentos como espaços de produção e formação.

3) Formação de quadros.

4) Campanha para despertar a consciência econômica. Comprar o que se necessita.

5) Alianças. Essa não é uma luta que se trava só.

6) Focar as energias no Movimento.

Vanderly contou histórias sobre os primeiros momentos do MST em MT. Lembrou que chegou ao Estado com alguns camaradas e que passaram muitos perrengues para organizar 3 mil famílias em 18 meses. Lembrou que dias antes da ocupação da fazenda Aliança aconteceu o Massacre de Corumbiara, o que deixou todo mundo com medo da ocupação aqui mixar. Lembrou que um policial rodoviário federal, já falecido, orientou os caminhões a seguirem até a área escolhida. E que, no final da madrugada, tudo já tinha dado certo. Vanderly disse que é difícil fazer um balanço complexo de um Movimento construído por tanta gente. E pediu um “viva à coragem da classe trabalhadora!”.

João Pizetta destacou a importância do Centro Olga Benário para garantir o processo permanente de formação, dinâmico, contraditório e que não se resume a cursos, mas também à prática na vida cotidiana. Segundo ele, o Centro deve encontrar um jeito próprio de dar conta das realidades regionais.

Pizetta lembrou que ainda estamos na fase da resistência e precisamos construir trincheiras nacionais e internacionais e que a formação é fundamental nessa tarefa. “Não vamos fazer a revolução com analfabetos e doentes”.

Ele disse que três valores são fundamentais na luta: simplicidade, sensibilidade e honestidade. “Vamos retomar a ética na vida, a moral. Vamos preparar, dentro desses valores, nossos jovens, para que tenhamos bons guerreiros no futuro. Vamos fortalecer a mística, porque para nós a mística é a própria revolução simbolizada”.

Lazer e cultura

“Tudo isso acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos”, cantou Zé Geraldo, em um dos momentos fortes da programação cultural que marcou os 15 anos do MST em MT. Ele fez um show sábado à noite e gravou um depoimento de apoio ao Movimento. As músicas engajadas de Zé Geraldo alimentam a alma e a luta.

Na sexta à noite, Pereira da Viola deu um show! Chamou o público para cantar junto, orientou uma roda animada, sugeriu que todos se abraçassem, enfim, mostrou a força do cantor popular.

Zé Pinto, cantor e compositor de músicas caipiras, tocou durante todo o evento, fez falas politizadas e criticou o lixo cultural que abarrota as TVs e rádios. “Pobre povo...que não tem acesso à arte popular. Desde que inventaram o palco, adeus!” - disse ele.

Ao lado do palco, foi montada a exposição sobre Olga Benário e Luiz Carlos Prestes. Sete banners, com fotos e textos, sobre a trajetória dos dois revolucionários.

Mais adiante, em uma banca assentados venderam produtos próprios, como rapadura, bombom, pinga, castanha e outros. Além de colares e outros adereços feitos se semente.

Ao lado da banca, um memorial, com fotos e matérias que registram 15 anos da luta do MST em MT.

Na noite de sábado, um vídeo contando essa história, na visão do MST, foi exibido. Ainda não está concluso, mas já demonstrou que vai cumprir o papel de registrar a história e mobilizar para a luta camponesa.

MST, ESSA LUTA É PRA VALER!